quarta-feira, 9 de janeiro de 2013




CAPÍTULO XIV - A SUSTENTÁVEL LEVEZA DE SUED


Tomé abriu os olhos e viu uma janela, ao seu lado esquerdo, a qual entrava uma leve claridade da manhã. Lá fora havia um pequeno movimento das arvores e de um casal a passar de mãos dadas, era o que podia visualizar, mesmo sendo o andar térreo. Reconheceu o entorno, estava de volta ao hospital, a dor tinha diminuído bastante mais ainda podia senti-la em seu peito. 

Deitado e ainda sem movimentos olhou para Gabriela, sua esposa que dormia em um sofá, ao qual se encontrava do lado de sua cama. Realmente ele comprovava que o infarto realmente acontecera.

Nesse momento Gabriela acordou em um súbito espasmo e de pronto levantou-se em direção a Tomé, olhou no seus olhos, voltou-se em direção a janela, entreabriu-a e alavancou-se para a porta do quarto, dizendo;

- Amor vou chamar o médico para lhe ver, calma que já volto.

E quase em uma largada de maratona, disparou para o corredor.

Tomé voltou seu olhar, novamente para a janela entreaberta e para seu espanto visualizou um gato, um tanto peculiar, com os olhos em um extremo azul e de um pelagem acinzentada e quase transparente, o bichano tinha um ar um tanto "fantasmagórico", pensou.

Veio subitamente uma frase em sua cabeça.

"Os Espíritos anunciam que chegaram os tempos marcados pela Providência para uma manifestação universal e que, sendo eles os ministros de Deus e os agentes de sua vontade, têm por missão instruir e esclarecer os homens, abrindo uma nova era para a regeneração da Humanidade." a qual pertencia a Allan Kardec, espiritualista de grande valor em sua concepção.

Nisso, para total surpresa de Tomé, uma voz um tanto conhecida, deflagrou;

- Vou deixar-lhe por uns breves minutos com sua esposa, ela precisa se acalmar, também tranquilizar seus filhos e toda sua família, aproveite bem esses minutos, temos que continuar nossa jornada! - Disse Sued. 

Tomé ria e admirava a incrível leveza de Sued, pois quem tinha falado tinha sido o gato, ainda estático na janela. 

- Sim Tomé, disse Sued em tom animado, me transformo em animais, mendigos, plantas, pedras, tudo para poder observar o comportamento da humanidade e expiar suas reações. Quantas vezes as pessoas tratam mal um pedinte, maltratam animais, destroem as plantas e jogam pedras?

Tomé, boquiaberto, comprovava que tudo não era um sonho e, ao mesmo tempo, admirava-se com a versatilidade de Sued, que ainda bradava;

- A metáfora da vida, meu amigo, baseia-se na pronta explicação do ser. És o que és não pela forma e sim pelo ser. Se és bom o será, se és grato o será, se és vida e amor se eternizará!

As palavras de Sued entraram em sua alma de uma forma avassaladora e seus olhos lacrimejaram, lágrimas de gratidão e conforto.

- Porque está chorando Tomé, o que está sentindo, dói alguma parte do seu corpo? Perguntava sua esposa.

Ela adentrava a porta do quarto, seguida pelo médico e uma enfermeira a qual imediatamente lhe aplicou uma intravenosa em seu braço.

Ainda com dificuldade pra falar Tomé balbuciou, está tudo bem meu amor, estou me sentindo muito bem, estive com Sued e ele me confortou e me levou para mostrar a vida, a realidade.

O médico se entrepôs à conversa e disse;

- Veja bem, o infarto seguido pelo coma o qual foi causado pela queda e a forte pancada na cabeça, além claro desses dois meses em sono profundo, podem ter deixado sequela e com certeza alucinações de pós trauma. Agora o Sr. Tomé deve repousar. A intravenosa é um sedativo que o ajudará em seu descanso.

Tomé ria por dentro, pois aquele pobre mortal não sabia o que dizia.

Gabriela o beijou levemente nos lábios, enquanto seus olhos se fechavam gradativamente e involuntariamente.

- Vamos Tomé, Airam nos espera em Arret. - Disse Sued.

Continua...

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