sábado, 5 de janeiro de 2013




CAPÍTULO II - A VIDA DE TOMÉ 
(Parte I)


Thiago Tomé Madalen, nome de batismo dado por sua bisavó paterna, teve uma infância bem confortável em uma família de classe média suburbana onde os pais leigos da forma humana habitual, não tinham nenhuma ideia de sua própria existência, e assim sua infância foi praticamente jogada a mesmice do cotidiano pseudo burguês.


A educação verbalista imposta por toda humanidade levava apenas a criação de mesquinhos “robôs”, programados para compor toda a engrenagem suja de uma sociedade medíocre, eram acéfalos para as questões ambientais e sociais, simplesmente máquinas cegas compondo o caos.

Sem chance de poder crescer espiritualmente e psicologicamente, Tomé ficaria preso aquele mundo hipócrita, puramente materialista e sem perspectiva. Com inúmeras incursões a diversas experiências religiosas, ele ainda na infância se perguntava o porquê de tamanha banalização da espiritualidade e a falta de escrúpulos dos ditos religiosos os quais mantinham em ignorância e submissão seus adeptos para assim dominar suas mentes símias.

Aos dez anos conheceu o cristianismo, já decadente e controverso em seu totalitarismo, o qual se refletia na sua própria família, do lado materno, os quais se restringiam em distorções ilógicas entre sua mãe e sua avó, discutindo um DEUS adverso, castigador, pacífico e eloquente ao mesmo tempo. E logo depois desse distúrbio generalizado caiu nos braços do espiritismo onde, segundo seus seguidores, donos da "verdade suprema", e em sua grande maioria “lobos em pele de cordeiros”, os donos de todas as respostas do universo, como se fosse possível tal façanha, oprimem a ponto da culpa aflorar em seu coração para melhor domínio perspicaz e assim exercer controle absoluto nas mentes fracas que as seguem, como toda religião o faz. 

Seu contato com as religiões seria maior e de forma mais intensa em sua maturidade, como inerência a raça humana, podendo assim formar tal opinião detalhada e crítica em torno das mesmas.

Sua adolescência estava cercada de puro materialismo, soberba, devaneio e falta de caráter por parte de sua família que sem nem um escrúpulo ou, por si só, um momento de “luz”, não percebia o mal que lhe fazia ao tratá-lo como um “petit prince”. Talvez sem culpa, ou com culpa e sem querer, lhe davam do possível e impossível lhe transformando em mais um desprezível e insuportável ser humano.

Aquela vida até ali parecia simplesmente como a de qualquer outro ser que vive para comer, dormir, procriar e absurdamente achar que está “vivendo”. Cada vez mais a tendência se repetia e o caminho parecia só piorar. O “robô” criado para integrar a engrenagem da pseudo sociedade civilizada, começava a se perguntar cada vez mais o porquê de tanta distorção e de tamanha ignorância por parte desses que se diziam “humanos”.

"Para que serve o dinheiro, se temos a palavra; para que destruir as florestas, já que são elas que nos dão vida; para que o ódio, se temos o amor?" - Se perguntava...

Só que a convivência lhe fazia esquecer tais questões e voltar à mediocridade humana. Mesmo com a morte de sua avó paterna, a qual era muito apegado e vendo seu primeiro ciclo do sagrado se despedaçar, ele não entendia o porque dos bons morrerem cedo, agora sua cabeça era definitivamente animal, puramente humana. 

Por se achar invencível e intocável ele começou a praticar pequenos furtos, na primeira ocasião sem saber nem o porque e logo depois para manter o vício químico, obrigatório na sociedade moderna, obtido pela ostensiva relação do ser, e ainda mais tarde para punir os indignos, que em sua percepção; estavam tão ligados a materialidade da vida que tinham que passar por tal provação. 

Tudo caminhava normalmente, na "incrível" história da maioria, dos adolescentes do planeta terra e por tanto na sua.

Foi quando uma experiência no mínimo mística lhe reascendeu a centelha, em tamanha escuridão. Sua companheira, Danna, inseparável naqueles tempos, em terras distantes, de redescoberta do “eu”, lhe levou para uma dupla jornada transcendental. Em um dia no começo de inverno em um campo longe de qualquer grande centro urbano, havia uma “chave” para as portas, há tanto mantidas travadas pelas mãos da imbecilidade humana. 


Em uma longa caminhada, em sua primeira etapa de quase uma hora por um desacreditado caminho de terra batida, se chegava ao córrego de águas cristalinas e com grande fartura de alevinos de todos os tipos e tamanhos. Logo após, em uma decida íngreme por uma planície que desembocava em uma mini floresta, em uma andança de mais quarenta minutos, eles chegavam à entrada desse lugar obviamente diferente e ao mesmo tempo e não tão obvio, completamente encantado, seja por sua simplicidade ou por sua complexidade biodiversa.


Intrinsecamente eles se aproximaram e logo avistaram alguns animais parecidos com touros ou búfalos e chamados na região de boi-zebú, tais animais produzem, dizendo os especialistas, o melhor e mais nutritivo esterco para fungos já visto em toda face da terra. Através deste estrume se faz florar, com a combinação de umidade do ar e clima tropical, o fungo chamado “Psilocybe Mexicano”, tendo como princípio ativo a psilocibina, que é amplamente conhecido como "cogumelo sagrado". 


Essa era a entrada para a percepção do vasto infinito. Após mastigar alguns desses, Tomé e Danna voltaram ao córrego e sob influencia divina, em uma leveza significativa do ser, fizeram amor na água fluente do córrego, o qual parecia escorrer por dentro de sua corrente sanguínea. Ao olhar em volta, pela primeira vez Tomé viu os tons de verde que até o dia em sua varanda não teria mas avistado.


Seu dom para o sagrado teria tido seu segundo ciclo e com um tom puro de demasiada energia universal. Com a cabeça direcionada para uma “nova era” de conhecimento do “eu”, Tomé passou a questionar a tudo e a todos de forma firmemente interrogativa, no sentido de dar lógica a breve passagem a qual nos encontramos. 

Tentando se achar, na selva em que se encontrava, de olhos vendados e anestesiado pela escassez de vida útil e inteligente. E novamente ele caiu na escuridão tomada pela arrogância da necessidade de sobrevivência através de meios primitivos e medíocres, todos naquela maldita sociedade capitalista só conseguiam pensar em emprego e concurso público, era simplesmente o recrutamento dos “robôs” que se encaixavam na engrenagem do absurdo.

Tomé, após mais essa fase de escuridão, se retraiu e isoladamente queria dar um basta naquela abominável forma de vida. Já maduro e com idade peculiar ao questionamento, conheceu a solidão e em absoluto desespero viveu a rua, viveu o nada em sua forma mais plena e amarga possível. Afastou-se da família, a qual na verdade nunca se deu muito bem, deixou garotas e pseudos amigos para trás e apenas se recolheu, jurando a si mesmo nunca mais cair na conversa demagoga de nenhum homo sapiens. 

Sua vida nesse momento teve um misto de céu e inferno.

Através de sua angustia profunda e dos meios que o levaram a tal fim, se encontrava totalmente disperso e privado de qualquer tipo de conforto, assim como luz elétrica e água potável. Em um casarão abandonado ele dividia espaço com ratos, baratas e demais insetos de todos os tipos possíveis. 

Dessa forma conheceu novamente o “real”, a vida como ela realmente é, na sua mais intrínseca forma. 


Observando o trabalho escravo urbano em uma nova forma que a sociedade teria criado pra disfarçar a “nova escravidão”, dando o nada para cobrar o tudo, em uma animalesca "forma de vida".


Continua...

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